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Como devo falar com um juiz ou promotor?

Uma grande dúvida de quem está começando a atuar na área jurídica é: se eu me encontrar com um juiz ou um promotor, como devo tratá-lo? Será que eu devo chamá-lo de “Vossa Excelência”? Ou seria “Excelentíssimo”?

Eu já tive essa dúvida também.

A resposta é muito simples: encontrando um juiz, promotor ou advogado em seu ambiente de trabalho, chame-o de DOUTOR. “Doutor, eu gostaria de conversar sobre um processo com o SENHOR”. Não tem erro. É assim que a maioria das pessoas faz e soa bastante respeitoso.

No meu caso, eu continuo chamando os operadores do direito de DOUTOR em qualquer ambiente, inclusive fora do trabalho. Aí é com você.

Há quem diga que não está certo, porque “doutor” não é pronome de tratamento e sim título acadêmico. Nesta visão, só poderia ser chamado de doutor quem tem um Doutorado. Bom, novamente eu digo: aí é com você!

Lidando com casos difíceis

Muitas vezes já me perguntaram: “Naiane, como você consegue lidar com esses casos tão difíceis que você atende?”.

É, não é fácil encarar diariamente tantas histórias de violência, abuso sexual, negligência e brigas familiares intermináveis. Não somos robôs. A gente simplesmente não se acostuma – e nem tem que se acostumar!

Mas a gente aprende a lidar. A gente TEM que aprender. Até porque se eu não cuidar da minha saúde mental, dificilmente conseguirei ajudar estas pessoas.

Quando você trabalha com famílias, é importante que você entenda que o problema do outro é DO OUTRO. Você não os causou e não consegue resolvê-los sozinha(o). Você pode auxiliar, orientar, conduzir, acompanhar, mas não tem o PODER de mudar completamente a vida alheia e resolver todos os problemas. Não caia nessa ilusão.

Considero necessário também se esforçar para não “levar trabalho para casa”. Fora do expediente, faça a sua higiene mental: tenha hobbies prazerosos, faça atividades físicas, relacione-se com pessoas que te fazem bem.

Se um caso específico mexeu com você, provavelmente ele tenha acessado algum conteúdo interno seu que precise ser resolvido. Nestas situações, corra para o seu analista ou psicoterapeuta!

Você pode também procurar Supervisão com um profissional mais experiente para te ajudar a enxergar saídas naqueles casos em que você não sabe mais o que fazer.

Porque a lei se chama Maria da Penha

Era uma vez uma linda mulher chamada Maria. Ela era farmacêutica bioquímica. Enquanto cursava o mestrado, conheceu na universidade um homem chamado Marco Antonio, um colombiano que na época fazia pós-graduação em Economia.

Poderia ter sido uma linda história de amor e respeito, mas infelizmente não foi bem assim. Maria da Penha Maia Fernandes é a personagem desta história de sofrimento, luta e superação. Uma história que poderia ser a minha ou a sua.

Maria e Marco Antonio namoraram, se casaram e tiveram 03 filhas. As agressões começaram quando Marco conseguiu a cidadania brasileira.

Na primeira vez ele tentou matá-la com um tiro nas costas enquanto ela dormia. Ele fez parecer que tinha sido um assalto; Maria ficou paraplégica. Na segunda vez ele tentou eletrocutar a esposa no banho. 

Após conseguir sair da casa, Maria enfrentou ainda o sofrimento de ter que lutar (e muito) para que Marco Antonio fosse julgado e condenado por tudo o que fez. Foram ANOS de espera e de luta. O caso ganhou repercussão internacional. Após quase 20 anos Marco Antonio foi condenado.

Quando finalmente surgiu uma lei específica para a proteção das mulheres em casos de violência doméstica (Lei nº 11.340, de 2006), ela recebeu o nome de Maria da Penha como forma de homenagem e reconhecimento. 

Hoje Maria tem 76 anos de idade. Ela fundou o Instituto Maria da Penha e participa de palestras e entrevistas sobre a sua experiência. Também escreveu o livro “Sobrevivi… posso contar”, que aborda a sua história de vida.

Fonte de pesquisa: www.institutomariadapenha.org.br

Você conhece o peso da sua caneta?

Um dia eu me dei conta do peso da minha caneta. E você, já pensou sobre isso?

Se você atende pessoas e escreve relatórios sobre a vida delas… a sua caneta tem peso.

Se o seu relatório chega até um promotor ou juiz, cujas decisões são capazes de mudar o rumo da vida das pessoas… a sua caneta tem peso.

Se você avalia pessoas e descreve seus diagnósticos… a sua caneta tem muito peso!

Tudo aquilo que nós escrevemos pode ajudar a rotular uma pessoa para sempre. Pode ajudar a construir (ou destruir) o futuro de uma criança. Pode contribuir para que alguém seja preso ou condenado.

No nosso trabalho, o peso da responsabilidade existe e sempre vai existir.

Tudo o que nós escrevemos e assinamos nos laudos e relatórios não é um “achismo”, é uma conclusão profissional e será considerada como tal.

Por isso é tão importante estudar sempre e estar disposto a aprender cada vez mais. É importante tomar cuidado com as afirmações que fazemos sobre o que as pessoas SÃO –  quando, na verdade, provavelmente elas apenas ESTÃO.

É nosso dever nos esforçar para sermos cada vez mais responsáveis e éticos, atuando somente naquilo que sabemos fazer e nos capacitando para aquilo que ainda não sabemos.

É nosso dever estar cientes de que o nosso trabalho envolve o futuro de muita gente – incluindo o nosso, pois também nós podemos ser responsabilizados e processados pelo que a nossa caneta escreveu e assinou.

Pare de usar termos ultrapassados

A nossa língua é viva e se transforma.

Muitas vezes, termos que usamos no dia a dia passam a ser considerados inadequados – em grande parte das vezes porque ficaram “desgastados” e carregados de preconceito ou de um sentido incompatível com seu verdadeiro conceito.

É interessante que você esteja atualizado quanto a isso, utilizando estes novos termos no seu discurso e nos seus documentos. Deixarei aqui três sugestões para que você reflita sobre elas e, caso queira, comece a utilizar a partir de agora.

1) Não use mais, por exemplo, o termo “menor” ou “menor de idade”. Ele remete ao Código de Menores (extinto faz tempo!) e carrega uma carga pejorativa e preconceituosa. Já percebeu que os jornais chamam o filho do pobre de “menor” e o filho do rico de “adolescente”? Pois é. Refira-se a estas pessoas como CRIANÇAS (até 12 anos incompletos) e ADOLESCENTES (de 12 a 18 anos).

2) Não diga mais que um pai precisa “visitar” o filho. Que tal substituir pela palavra CONVIVER? Quem faz visita é a sua tia lá do interior, que vai na sua casa uma vez por ano…

3) Se você atende alguém com qualquer deficiência (física, auditiva, visual, intelectual), você atende uma PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Primeiro vem a pessoa, depois a deficiência. Não é um “especial”, “excepcional” e nem um “portador de deficiência”. A gente porta uma arma, um objeto, mas a deficiência não se “porta”!

Mesmo que estes termos ainda estejam em algumas leis, mantenha-se atualizado e procure utilizá-los. Se está sendo proposta uma nova nomenclatura, há um motivo para isso. Por trás destas mudanças há profissionais e estudiosos que se importam com estas temáticas e que estão fazendo sua parte para que haja alguma mudança social e um maior respeito pelas pessoas envolvidas.

Vamos fazer a nossa parte também.

Quando as pessoas se acostumam com o litígio

Se você fosse chamado hoje para ir ao fórum falar com um psicólogo, assistente social ou juiz, como você se sentiria?

A maioria das pessoas fica nervosa. Normal, né? É uma situação diferente e as pessoas não sabem bem o que esperar. Ficam com medo de falar algo errado, de se comprometer e acabar “perdendo o processo”…

No entanto, há pessoas que se acostumam com o litígio (disputa, conflito judicial). Há famílias inteiras assim. Elas vão ao Fórum como se fossem dar uma volta de bicicleta no parque. É tão constante que já se acostumaram.

Estes casos costumam ser difíceis porque sempre voltam. Acaba um processo e chega outro.

Às vezes o litígio não é entre duas pessoas, mas entre uma pessoa e o Sistema de Justiça – como nos casos em que uma mãe diz querer os filhos de volta mas a Justiça solicita, às vezes por anos, que ela adeque sua conduta a um determinado padrão.

Estas pessoas simplesmente se acostumam. Parecem não conseguir mais enxergar uma vida longe do sistema judiciário. Passam por diversos profissionais em várias instituições, inclusive conhece todos pelo nome.

Cada um é responsável por suas escolhas. As pessoas podem perfeitamente escolher viver assim. No meu ponto de vista, nós que as atendemos é que não podemos nos acostumar.

E isto exige muito esforço nosso.

Precisamos buscar atendê-las com o mesmo respeito que destinamos às demais pessoas atendidas. Acolhê-las com a mesma disposição para ajudar e com a esperança de que elas decidam por um novo rumo. Que decidam não precisar mais de terceiros “se metendo” em suas vidas e lhes dizendo o que fazer.

Que decidam se libertar de nós.

Como funciona o depoimento especial

Imagine que uma criança ou adolescente sofreu uma violência ou foi testemunha de uma situação dessa. Em um determinado momento, ela precisa contar ao juiz o que aconteceu.

O Depoimento Especial é justamente isto: o procedimento de escuta de uma criança/adolescente que foi vítima ou testemunha de uma violência. Essa escuta pode ser feita diante de uma autoridade policial ou judiciária.

Mas como isso funciona?

Enquanto um adulto é escutado no procedimento “normal” (na sala de audiências), a criança/adolescente recebe um tratamento diferenciado. Ela entra em outra sala, recebe uma preparação para o que vai acontecer e dá o seu relato para um psicólogo ou assistente social que foram treinados para isso. Tudo é transmitido ao vivo (som e imagem) para a sala de audiências, o outro ambiente onde estão o juiz, promotor e os advogados.

Assim, a criança/adolescente consegue ficar mais tranquila e levar o tempo que for necessário para falar, sem pressões externas. Também conseguimos evitar que sejam feitas perguntas inapropriadas…

Aliás, todas as perguntas da sala de audiências ficam para o final do procedimento e passam pela avaliação do juiz (que escolhe as mais apropriadas) e também do profissional que está com a criança/adolescente (que adequa a pergunta à idade e entendimento da vítima).

Há pessoas que acreditam que na sala do Depoimento Especial há câmeras escondidas e microfones disfarçados para que a criança/adolescente não perceba o que está acontecendo… Mas NÃO É ASSIM. A gente não pode enganar a criança, né pessoal?

A pessoa que será ouvida – assim como o seu responsável – tem acesso a todos os equipamentos antes da audiência começar e é informada sobre todos os procedimentos. Ela pode, inclusive, se negar a falar. É um direito dela.

Quando o usuário nos trata mal

Procuro tratar todos os usuários (clientes, jurisdicionados) com cordialidade. Em geral eles me tratam assim também. Mas há casos e casos.

Certo dia telefonei para um (ex) casal para agendar atendimentos individuais. Estes atendimentos são orientações feitas a pessoas que se envolveram em violência doméstica. Antes este trabalho era feito em grupos de reflexão – que agora estão suspensos devido à pandemia.

Pelo que li no processo, o caso era bem sério.

Ao ligar para a mulher, ela contou que estavam separados e que ela não precisava de psicóloga nenhuma. Grosseiramente, disse que não queria mais tocar no assunto. Pacientemente expliquei do que se tratava e a convenci a agendar uma data.

Ao ligar para o homem fui tratada ainda pior. Ele disse que não queria o atendimento e que não precisava daquilo. Informei que sua participação era obrigatória e a falta poderia gerar multa. Ele disse que não pagaria e que poderia até ser preso (no melhor estilo “tô nem aí”). Ele parecia um tanque de guerra em um ataque que eu não estava esperando.

A esta altura eu já estava com muita raiva. A gente não é de ferro, né?

Mas nem com raiva eu o destratei. Expliquei-lhe sobre o atendimento e lhe disse que havia dois caminhos possíveis: passar 1h30 conversando comigo ou então ser multado ou preso (como ele mesmo sugeriu). Perguntei-lhe qual lhe parecia mais razoável… então ele aceitou agendar.

Desliguei o telefone e coloquei a raiva para fora (vou deixar você imaginar como).

Nas datas marcadas, os atendi com cordialidade e firmeza – e, vejam só, ambos já estavam calmos e gentis. A mulher estava muito fragilizada e precisava de apoio para sair daquela relação doentia. O homem não quis se expressar, mas ouviu com atenção tudo o que eu disse. Após os atendimentos ambos agradeceram.

Não é fácil deixar de revidar quando a gente é atacado. Mas se um dia isto acontecer com você, tenha em mente algo muito importante: NÃO É PESSOAL. Não é você que a pessoa está atacando, mas o que você representa ou a instituição a qual pertence. Não é pessoal. Não é para você.

Cada um dá aquilo que tem.

Se você trabalha em uma instituição, lembre-se também de que você a representa. Não perca o controle das suas emoções só porque você está lidando com alguém que já perdeu o controle.

Cada um dá aquilo que tem!

Saiba que algumas vezes serviremos de lixeira para que os usuários descarreguem sua raiva. E, tal como uma lixeira, jogaremos esta raiva fora porque ela NÃO PERTENCE A NÓS.

Importante deixar claro: logicamente, estou falando aqui de grosserias, falta de urbanidade e de cortesia. Em casos de violência física, por exemplo, acredito sim que providências devem ser tomadas.

E você, já passou por algo assim no seu trabalho?

Por que eles querem adotar?

Se você trabalha ou pretende trabalhar na área da adoção, esta pergunta é muito importante para você. Por que esta pessoa (ou casal) quer adotar?

Afinal de contas, é muito grande a nossa responsabilidade.

Quando falamos em adoção estamos falando de uma pessoa. Uma criança ou adolescente. Um ser humano em formação e que é cheio de necessidades, peculiaridades e direitos a serem respeitados. Um ser único que provavelmente já experimentou dolorosos abandonos em tão pouco tempo de vida.

Na adoção, esta criança ou adolescente é entregue a uma pessoa ou casal como filho. Nós fazemos parte dessa entrega e acompanhamos tudo de perto. E esta entrega é para sempre.

É por tudo isso que precisamos, sim, saber qual MOTIVAÇÃO levou aquela pessoa à decisão de adotar. Isso porque, infelizmente, algumas pessoas procuram a adoção com expectativas inadequadas.

Quer exemplos? Vamos lá:

1) Adotar para ter companhia.

Imagine só uma pessoa idosa que pretende adotar porque os filhos já cresceram, saíram de casa e ela se sente sozinha. Esta criança não ocupará o lugar de filho, e sim de cuidador ou ajudante! Corre o risco de ser “amada” apenas enquanto for útil…

2) Adotar para tentar salvar um casamento em crise.

A criança já chega na família com esse grande peso nas costas: a missão de salvar um casamento. Mas problemas conjugais devem ser resolvidos por adultos, não por crianças! E se alguém acredita que um filho pequeno ajuda a diminuir conflitos na vida de um casal… bom, eu conto ou vocês contam? 😅

3) Adotar para fazer caridade.

Neste contexto, pode ser que os pais tenham dificuldade de estabelecer limites ou se coloquem no papel de “salvadores” da criança, esperando que o filho seja grato porque eles lhe deram uma família. Acontece que essa criança “ideal” (idealizada, sonhada, perfeita) não existe. Haverá dificuldades e desafios, pois em qualquer família há.

Adoção é coisa séria e precisa ser feita com muita responsabilidade e cuidado. É por isso que são realizadas entrevistas, orientações, acompanhamento e também um curso preparatório para as pessoas que pretendem adotar.

A mãe pode entregar seu filho para adoção?

Talvez você acredite que entregar um filho para adoção é crime. Mas não é!

Isto se chama ENTREGA VOLUNTÁRIA.

É a possibilidade, assegurada por lei, de uma mãe entregar seu filho para adoção em um procedimento acompanhado pela Justiça.

Por que a lei permite isso? Para preservar os direitos e interesses da criança.

Mas veja bem: não estou falando de largar a criança na rua, deixar na porta de uma casa, abandonar em uma lixeira… ISSO SIM É CRIME!

Para fazer a Entrega Voluntária a mulher gestante (ou com filho já nascido) precisa procurar a Vara da Infância e Juventude mais próxima e informar o que deseja. Essa mulher não será julgada e nem exposta; ela será acolhida e amparada pela equipe profissional.

Caso a mãe persista em sua decisão, será feita a busca de familiares que tenham interesse e condições de cuidar da criança. Não havendo essa possibilidade, a criança será entregue aos pretendentes à adoção que estão na lista de espera.

As pessoas em geral precisam saber que a Entrega Voluntária não é crime e como ela deve ser feita. Que tal passar esta importante informação adiante?

Sua escrita te apresenta ao mundo

Há um triste fato sobre nós, psicólogos: a faculdade não nos ensinou a escrever.

O pior é que isso também acontece em outras profissões, inclusive algumas que utilizam a escrita como principal instrumento de trabalho. Vai entender, né?

Muitos de nós trabalhamos em instituições onde é preciso mostrar o resultado do nosso serviço por meio de um documento. É nessa hora que vejo muita gente BOA, CAPACITADA e EXPERIENTE que, embora se esforce, não consegue entregar um bom material escrito.

Imagine você escrever um relatório e ninguém entender direito. Imagine escrever um parecer com erros grosseiros de português – palavras que poderiam ser corrigidas com uma simples busca na internet. Imagine escrever um texto com frases que começam e não terminam.

É lógico que NINGUÉM tem um português perfeito, mas nem por isso devemos nos acomodar.

Quando se trabalha com Psicologia Jurídica, há grandes chances de que seu documento seja inserido em processos judiciais e lido por muitas pessoas (usuários da justiça, advogados, promotores, juízes). Existe até a chance, ainda que remota, de que ele seja lido nos Tribunais Superiores lá em Brasília.

A verdade é que o seu laudo fala por você. Ele te apresenta ao mundo. Por isso é tão importante que você sempre se dedique a melhorar a sua escrita.

No meu fazer diário utilizo alguns procedimentos que considero importantes na hora de escrever. Deixo para você como sugestões:

1) Evite escrever com pressa. Se tiver qualquer dúvida, por menor que seja, pesquise. É possível fazer buscas on-line em segundos para saber se há crase naquela frase ou como se escreve aquela palavra;

2) Ao terminar, leia o documento no computador e faça as primeiras correções. Imprima, deixe o relatório “descansando” e leia de novo no dia seguinte. Há coisas que só um cérebro descansado consegue perceber;

3) Se estiver inseguro, entregue o documento para um colega analisar (não pode ser qualquer pessoa! Lembre-se do sigilo). Ele conseguirá enxergar melhor possíveis erros e dizer quais frases poderiam ser reescritas para facilitar o entendimento.

E você? Que técnicas ou cuidados você usa na hora de escrever?

Quem pratica alienação parental

Como um camaleão que se molda conforme a necessidade, dizendo “sim” quando na verdade está pensando “não”.

É assim que o psiquiatra Jean-Marc Delfieu¹ define a CRIANÇA que é exposta à Alienação Parental. Programada e manipulada, já não sabe quem ela é e nem o que realmente sente.

Porém, pensando sobre isso percebi que a figura do CAMALEÃO também se encaixa bem ao que chamamos de ALIENADOR PARENTAL.

A pessoa que pratica Alienação Parental é aquela que induz a criança a se afastar e/ou odiar o outro genitor. O alienador pode ser a mãe, pai, avós ou qualquer pessoa responsável pela criança ou adolescente.

Mas onde entra o camaleão nessa história?

Para começar, a palavra camaleão remete a “leão da terra”. Nada mais apropriado para o alienador, que se considera o dominador absoluto do coração do filho. Tudo deve girar ao seu redor e não pode haver espaço para o outro genitor na vida daquela criança.

Sabe aquela cauda enrolada do camaleão? Ela é prêensil, ou seja, capaz de prender e segurar as coisas. E é justamente isto que o alienador tenta fazer: manter o filho preso em sua vida e em suas verdades inquestionáveis.

Algumas espécies de camaleão conseguem também mudar sua cor para se camuflar ou interagir socialmente. E quem lida com alienadores sabe que o discurso deles é um, mas a prática é outra.

A língua do camaleão é longa e ágil, com uma saliva tão pegajosa que não há como sua presa escapar. Da mesma forma, o alienador sequestra o filho para dentro de si e usa dele para que o outro genitor possa sofrer toda a dor que um dia lhe causou. Esforça-se para convencer o filho de que o outro não o ama ou é perigoso.

E não há argumentos, por mais lógicos que sejam, que o façam flexibilizar um pensamento que ele já solidificou. Tentar convencer um alienador de que ele está agindo errado é altamente desgastante e (geralmente) infrutífero.

O alienador parental é como um camaleão.

Mas, infelizmente, só um deles tem uma visão de 360 graus e consegue enxergar que existe um mundo ao seu redor.

– – –

1-DELFIEU, J. M. Syndrome d’aliénation parentale: diagnostic et prise en charge médico-juridique. In: Experts, n.67, p.24-30, juin, 2005. (Disponível na internet)

As três fases do ciclo da violência

Quando atendemos mulheres que sofrem violências recorrentes, elas costumam confirmar: o tal do Ciclo da Violência é exatamente o acontece na casa delas.

Por isso é tão necessário sabermos o que é isso e passarmos essa informação adiante. Todos – homens e mulheres – precisam entender este Ciclo, porque assim se consegue perceber a violência e até evitá-la.

Foi a psicóloga Lenore Walker que escreveu sobre o Ciclo da Violência em 1979. Ela mostrou que existe um padrão, uma dinâmica diferenciada nas relações de violência doméstica recorrente. E isso acontece em 03 fases diferentes.

Você pode encontrar essas fases com outros nomes, mas a essência é a mesma. São elas:

Fase 1: TENSÃO

Um aumento da tensão entre o casal e uma crescente sensação de perigo. O homem fica irritado, tem momentos de raiva, humilha a mulher. As brigas ficam frequentes, podendo haver gritos, ofensas e provocações.

Fase 2: EXPLOSÃO

É o ataque violento contra a mulher, como por exemplo um espancamento ou uma violência sexual.

Fase 3: LUA DE MEL

O homem se arrepende (ou se mostra arrependido) e se comporta de forma amável. Se a mulher fala em se separar, ele diz que vai mudar, chora, compra flores. A mulher acredita no arrependimento e no aparente desejo de mudança e dá mais uma chance ao relacionamento.

Resumindo, é isso aqui: Ofensas → forte agressão → pedido de desculpas.

Se a relação não for modificada, o ciclo volta a acontecer de novo e de novo.

Só que o tempo entre uma fase e outra fica mais curto… as agressões físicas vão ficando mais fortes…

Até que chega o último dia. O dia em que outras pessoas levam flores àquela mulher, mas infelizmente ela não consegue mais vê-las.

Eu não gosto do meu pai

“Na verdade, é que eu não gosto do meu pai.”

Certo dia escutei esta frase de uma criança. Ela morava com a mãe e convivia com o pai poucas vezes no ano. O pai morava em outra cidade e viajava muito a trabalho. Os dois disputavam a guarda da filha.

E aquela frase veio assim, dura e fria como o gelo.

Ela tinha acabado de falar positivamente sobre o pai e a frase não parecia fazer sentido. Ela me pegou de surpresa.

Como eu já tinha entrevistado a mãe, sabia um pouco da história da criança. Pedi para que ela me explicasse o motivo de não gostar de seu pai, mas ela não soube dizer. Então eu propus que tentássemos entender melhor aquele sentimento.

“Será que você não gosta do papai, ou você não gosta de estar tanto tempo longe do papai?”. Ela abaixou a cabeça e acenou que sim. “E será que, na verdade, o que você está sentindo é muita saudade do papai?”. Novamente ela disse que sim. “Então vamos falar o nome certo dos sentimentos? Você gosta do papai, está com saudade e gostaria de estar com ele mais vezes. É isso?”. Nesta hora as lágrimas já desciam do rosto dela.

A garotinha que tentava me convencer de que não gostava do pai (talvez para que sua mãe não “perdesse” a guarda), agora me revelava que sentia um profundo amor por ele.

Ela só queria ser amada. É só isso que as crianças querem.

Se você trabalha com crianças, precisa se lembrar de que elas podem confundir os sentimentos com facilidade. Não adianta apenas escutar “eu não gosto do meu pai” e anotar isso na sua prancheta.

Em meio a uma disputa pela guarda, as crianças realmente acreditam que têm que tomar partido e defender um dos genitores (geralmente aquele com quem ela mora). Muitas vezes, “eu não gosto do meu pai” significa “eu amo meu pai, mas não quero deixar de morar com a minha mãe”. E pode significar também “eu estou com raiva do meu pai agora, porque ele não está vindo me ver”.

Em geral, crianças amam seus pais. Este é o natural e o comum. Então quando uma criança disser que não gosta do pai ou da mãe, busque entender o que ela realmente quer dizer com isso.

Ajudar a derreter o gelo do coração de uma criança: eis aí um dos melhores trabalhos do mundo.

Será que essa mulher gosta de apanhar?

Tem gente que toma injeções tranquilamente… mas tem gente que fica tão nervoso que desmaia.

Tem gente que morre de medo de altura… mas tem gente que adora pular de paraquedas.

Tem gente que come de tudo… mas tem gente que passa mal só de sentir o cheiro de certa comida.

Cada um sabe o que suporta e o que não é capaz de suportar. Cada um tem seus motivos. Mas na hora de falar do relacionamento dos outros a gente se esquece disso.

Sair de uma relação violenta é um processo: cada mulher o faz do seu jeito e NO SEU TEMPO.

Quando uma mulher sofre agressões frequentes e continua morando com o agressor, esse pensamento logo vem à mente: “Ah, ela deve gostar de apanhar. Só pode!”. Que atire a primeira pedra quem nunca pensou ou falou algo assim.

O que você não sabe, talvez, é que esta mulher pode estar se sentindo presa ao agressor e sem condições de se libertar.

E são vários os motivos.

Pode ser que ela dependa dele financeiramente e não tenha para onde ir com os filhos, porque a família dela já disse que “quem casou, tem que aguentar até o fim”. Pode ser que ela esteja com medo de denunciar e ele se vingar dela depois. Pode ser que sinta muita vergonha da família e dos vizinhos, e por isso prefira esconder a situação em que vive.

Pode ser que ela se sinta culpada pela violência que sofre (porque o agressor faz questão de culpá-la mesmo). Pode ser que ela não se sinta capaz de criar os filhos sozinha. Pode ser que ela ame o homem com quem ela se casou e não queira que ele seja preso. Que ela tenha esperanças de que um dia ele vá melhorar. Pode ser que ela só conheça esse tipo de vida, porque foi no meio de violências que ela cresceu e aprendeu a sobreviver.

E pode ser que a autoestima dela esteja tão baixa que ela tenha DESISTIDO DE LUTAR.

Se você encontrar uma situação como esta em seu trabalho (ou na vida pessoal), saiba que não nos cabe julgar esta mulher. A gente pode escutar, orientar, informar seus direitos, incentivar, oferecer ajuda, dar apoio. Mas a gente não pode decidir por ela.

E sabe o que a gente não pode também? Continuar repetindo essa bobagem de que mulher gosta de apanhar.

Ninguém gosta de ser espancada e humilhada.

Abuso sexual de crianças: por que elas não contam?

Presta atenção, que a história é real.

Era uma vez uma mãe que costumava dizer, nas conversas com as vizinhas: “Se algum dia alguém mexer com as minhas filhas… EU POSSO ATÉ MORRER, mas eu mato a pessoa também!”

Certo dia uma de suas filhas sofreu um abuso sexual. Mas ela não contou para a mãe naquele dia. Também não contou no dia seguinte. Ela demorou MESES para contar.

E sabe por quê?

Porque, ouvindo a frase que a mãe dizia, ela entendeu o seguinte: “se eu contar o que aconteceu, minha mãe vai morrer. E eu não quero ficar sem a minha mãe”.

A gente já foi criança, mas a gente esquece que foi. A gente cresce e começa a achar que criança pensa igual adulto e entende tudo o que a gente diz. Aquela mãe achava que estava protegendo a filha, mas na verdade estava colocando uma barreira na comunicação entre elas.

Há muitos motivos pelos quais uma criança não conta a ninguém que foi vítima de um abuso sexual. Pode ser por vergonha, por medo de apanhar dos pais ou por medo das ameaças sofridas pelo abusador.

Pode ser também que a criança não entenda o que está acontecendo. Ela não compreende a gravidade da situação e pode acreditar que tudo aquilo é apenas uma “brincadeira” que o “tio” faz com ela. Afinal de contas, geralmente o abusador é uma pessoa de confiança da família (ou pessoa da própria família!) e se ele está dizendo que está tudo bem, então deve estar mesmo tudo bem.

Quando a criança cresce e passa a entender o que é tudo aquilo, geralmente vem o sentimento de culpa. “Como deixei isso acontecer por tanto tempo? Se eu contar, será que alguém vai acreditar em mim?”. E então ela se fecha.

Falar sobre um abuso sexual que aconteceu é como viver de novo cada momento daquele. Falar sobre tudo aquilo DÓI. E é por isso que tantas vezes a criança prefere o silêncio.

Contando a verdade sobre a adoção

“Ainda não contei porque ele é muito novo, não vai entender”.

Já escutei essa frase de pais com crianças de 03 a 06 anos. Será mesmo que elas não entenderiam?

Em geral, a grande dificuldade de contar sobre a adoção está nos PAIS e não nos filhos. Por trás desta justificativa existem adultos que estão inseguros com as consequências dessa revelação.

Alguns têm medo de que o filho se entristeça ou se revolte. Outros têm medo de que o filho queria ir embora para morar com os pais biológicos – e nem preciso dizer que isso acontece mais na fantasia dos pais do que na realidade.

De fato, quando a criança descobre que chegou através da adoção pode ser que ela comece a buscar respostas. Ela quer saber quem são seus pais, como eles são e qual o motivo de terem-na abandonado. Toda essa busca é natural, porque saber de onde viemos nos ajuda a entender um pouco de quem somos.

Mas nada disso justifica manter a adoção em SEGREDO. Por que guardar segredo sobre algo tão bom?

Esperando a tal idade certa, muitos pais acabam não contando e enfrentam um grande problema depois, quando o filho descobre sua adoção na adolescência (e em meio a todos os desafios da idade). Os pais se sentem culpados, o filho se sente enganado.

Por isso, quando me perguntam qual o momento certo para contar, eu respondo: “Ontem”.

A criança precisa saber da sua origem desde o primeiro dia. Deve-se contar sua história de forma natural e sem detalhes desnecessários para a idade. Melhor ainda se sua história for contada com um álbum de fotografias, com imagens de quando ela era bebê (se houver), da casa de acolhimento, daquele dia tão feliz em que ela chegou na nova família…

Quanto mais tranquilos os pais estiverem, mais tranquilo o filho estará.

E estar tranquilo é entender que não se pode apagar a história de alguém ou fingir que nada aconteceu. Criar um filho saudável inclui apresentá-lo à própria história e ajudá-lo a organizar as coisas dentro de si.

Falar ao filho a respeito de sua história não é sobre “contar a verdade”, é sobre VIVER A VERDADE da adoção. É no dia a dia que se mostra ao filho quem ele é, de onde ele veio e quão longe ele pode chegar.

Mudar o nome da criança vinda por adoção: descascando esse abacaxi

Eita assunto espinhoso esse, hein?

Quando se fala em mudar o nome (prenome) de uma criança vinda por adoção, cada um tem a sua opinião. A lei permite a mudança do nome e os novos pais podem tomar essa decisão.

Seja lá o que você pense sobre isso, te convido a ler este post até o fim. Eu queria te explicar brevemente o meu ponto de vista, e aí você decide se concorda ou não. Beleza?

O nome de um bebê, geralmente escolhido pela mãe e/ou pai biológicos, está ligado à IDENTIDADE daquela criança. Com aquele nome o bebê é chamado desde a gestação. Quando nasce, continua sendo chamado pelo nome entre os familiares e, se chega à casa de acolhimento, ali também é reconhecido pelo nome que recebeu.

E então vem a adoção. Quanta alegria! Mas também: quanta mudança…

São novos pais, novo sobrenome, nova casa, nova rotina. São cheiros diferentes, comida com outro sabor, novas vozes ao redor. São diferentes jeitos de falar e de agir. Uma cama diferente para dormir. Novas roupas. Regras desconhecidas a aprender.

Uma vida COMPLETAMENTE DIFERENTE.

Em meio a tanta “bagunça”, quais as únicas coisas que aquela criança continua carregando consigo? Quais as únicas coisas que ela ainda pode chamar de suas?

O seu CORPO e o seu PRENOME (primeiro nome).

Alguns pais, no entanto, querem abandonar o nome que a criança teve até ali e, como num passe de mágica, dar a ela outro nome. Tirar dela o pouco da identidade que lhe restou.

Ao atender pessoas que pensam em mudar o nome do filho, é interessante conversar sobre isso. Mudar o nome para quê? PARA QUEM?

Por que EU não acho bonito?

Por que não é o nome que EU sonhei?

Por que chamando esse nome EU me lembro do triste passado do meu filho?

Mudar o nome de alguém (mesmo que seja bebê) é algo muito sério e pode trazer consequências emocionais. É uma decisão que precisa ser analisada com cautela.

Se for feito, que seja para beneficiar a CRIANÇA – e não para atender necessidades dos adultos!

Quando o perigo não mora ao lado

Isabella Nardoni tinha 5 anos.

Bernardo tinha 11 anos, assim como Pérola.

Rhuan Maycon tinha 9 anos.

E Henry Borel tinha 4 anos.

Com tão pouca idade estas crianças conheceram a dor, a violência e a morte. E não foram mortes por acidentes, por tragédias inevitáveis…

Foram mortes causadas por pais, mães, madrastas e padrastos. Pessoas que tinham a função de PROTEGER.

Será que foi um momento de descontrole? Será que eles planejaram tudo? Foi para se livrar da criança porque ela dava trabalho? Foi para se vingar do ex? Será que ninguém percebeu? Como é que ninguém evitou?

Perguntas e mais perguntas, e muitas talvez continuem sem resposta.

Nestas horas o trabalho dos peritos e da polícia é essencial. São eles que encontram as peças escondidas e montam o grande quebra-cabeças sobre estes crimes tão chocantes e tristes.

E os acusados? Estes costumam negar até a morte, mesmo que todas as provas apontem na mesma direção. Depois que tudo vem à tona e a sociedade clama por justiça, é mesmo difícil admitir – até para si mesmo – que você foi capaz de fazer algo tão desumano assim.

Não podemos fechar os nossos olhos e ouvidos quando se trata da segurança e da vida de crianças. Não podemos fingir que não vemos ou ficar com medo de “meter a colher” na família alheia.

Muitas vezes achamos que o perigo mora ao lado e, por isso, nossas crianças precisam ser protegidas apenas das pessoas de fora (vizinhos, parentes, colegas, desconhecidos). Mas para Isabella, Bernardo, Pérola, Rhuan, Henry e tantas outras crianças, o perigo morava DENTRO.